29.9.14

nem eu sei carregar os meus pesos

hoje foi um dia difícil. não costumo ter dias difíceis. há alguns anos que aprendi que não tive, não tenho, e raramente passo por dias difíceis. mas hoje foi um deles. durante as férias tive apenas um momento difícil, que passou num instante. 
nos poucos dias difíceis, que contando pelos dedos das mãos não passam de meia dúzia, sinto que nada do que faço vale a pena. lembro-me que nada vale a pena e que estou a desperdiçar tempo. e, depois, choro. (re)vivo o meu primeiro grande dia difícil vezes e vezes sem conta. isso acontece na minha imaginação mas, a dor que sinto, toca-me na alma.
o mais engraçado, embora sem piada alguma, é que todos os dias acordo à espera que aquele seja um dia difícil, estou sempre à espera da má notícia (até da minha própria má notícia)... mas, quando o dia difícil bate à porta, desmancho-me em lágrimas, entro em estado de choque, e não acredito naquilo que ouço. por muito que me prepare e esteja à espera da desgraça, a sua chegada nunca é algo que consiga suportar, não é uma emoção que aguente. e revivo tudo novamente.
uma das minhas professoras, das mais humanas e compreensivas que tive durante a faculdade, morreu neste dia, durante a noite (segundo sei). verdade que não era uma pessoa próxima de mim, não era alguém com que falasse muito, e não será alguém de que sentirei falta pelas razões atrás mencionadas, mas a morte toca mais em quem não precisa de morrer tão cedo e isso faz-me questionar muita coisa. eu poderei nem dar tanto pela sua falta, mas quem a conhecia e convivia com ela sentirá, e eu sei o que isso é. é olhar para as coisas e não perceber como os outros podem continuar com a sua vida quando a vida de alguém acabou de desabar. é não perceber porque o que aconteceu, aconteceu àquela pessoa. é não perceber como podemos acabar assim, de um momento para o outro, deixando tudo para trás. e, acima de tudo, é perceber que fizemos tanto em vida que de nada nos serve naquele momento, ou daquele momento para a frente. 
a morte tira mais do que aquilo que a vida nos dá. a mim, a vida deu-me pouco. dizem que mais vale pouco que nada, mas eu chego a preferir o nada do que o pouco. se eu não souber nada, não sinto nada. se eu souber pouco, sinto muito. e prefiro sentir nada. 
e, hoje, foi um dia difícil. foi um difícil porque a morte tocou na vida de pessoas que conhecia (e, às que não conhecia, as minhas desculpas, ninguém devia passar por uma morte que fosse). e foi um desses dias maus porque, acima de tudo, apercebi-me que, por muito que espere por estes dias, nunca estarei preparada, porque me relembro de tudo pelo que passei, por todos os pequenos detalhes que passei no meu primeiro dia difícil e no quanto estas coisas me tocam. não sei como as pessoas suportam estes pesos, estas perdas. eu não sei como as suporto diariamente mas, nestes dias, não as suporto nem um pouco. nem eu sei carregar os meus pesos, as minhas perdas. e só queria que ninguém tivesse de carregar estes pesos.

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