ontem fui ao dentista. raramente me acontecem destas coisas, - não de ir ao dentista, isso acontece várias vezes (lol) - mas ontem apanhei uma conversa muito simpática entre uma mãe e uma criança. não vou supor idades porque acho que não são importantes. na tv, passava a questão da eutanásia. a criança perguntou à mãe o que era a eutanásia. eu optei por ouvir a conversa alheia e dar atenção a isso, - eu sei que é feio, daí ter dito que raramente me acontecem destas coisas - embora não tenha olhado uma única vez para os participantes da mesma enquanto decorria.
a mãe engole em seco, sente-se aquele peso de "como colocar isto em palavras?". muito baixinho, começa a falar. e, depois, começa a colocar muitas paragens nas suas frases. começo a perceber que a mãe tem dificuldade em explicar o que significa morrer. será que a criança não sabia o que era morrer? a mãe utilizou uns 3 sinónimos antes de chegar à palavra morrer, mas lá chegou e a criança fez a questão central do tema: "és a favor ou contra?". e a mãe responde "é um assunto complicado, não sei. (pausa longa de quase 1 minuto, com a tv a falar ao fundo) mas penso que sou contra". e... a criança nem perguntou porquê!!! (sim, 3 exclamações porque o porquê é fulcral para percebermos como as pessoas pensam). e eu, fiquei ali a contorcer-me mentalmente. queria saber mais, queria perceber a opinião da senhora. também quis intervir enquanto a senhora tentava explicar o que era a eutanásia, porque senti que estava a dar um ênfase negativo à questão - mais em relação ao acto de morrer.
as pessoas têm um problema com a morte. eu também tenho, creio que todos temos. mas, a realidade da situação é que, o nosso problema com a morte não é que alguém queira morrer. é que nós não sabemos lidar com a ausência eterna de alguém que gostamos.
um ser humano que prefere deixar alguém em sofrimento até morrer (convenhamos, a apodrecer até não ter mais um sopro de vida no corpo, uma única resistência), é mais egoísta do que uma pessoa que deseja morrer por estar em sofrimento. ninguém, no seu bom estado mental e físico, quer morrer. mas entre sofrer e morrer, a morte é um acto benevolente.
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