29.5.25

"Deep Cuts" - chama-lhe uma espécie de review

 por norma, não faço reviews seja do que for neste blog. uso as devidas plataformas para o fazer e ficar tudo bonitinho e no seu cantinho. abstive-me de fazer review do Cleopatra and Frankenstein quando aquele livro me dizia muita coisa - mas muito se deveu a não conseguir recomendar o livro. mas não consigo ignorar tanto este sentimento em relação ao Deep Cuts. é mais do que recomendável!
lá de vez em quando aparecem-me estes livros vigorosos em que sinto uma conexão imensa com os personagens, em que lido com eles como se fossem os meus melhores amigos, e não consigo avançar com o término fictício da nossa relação. senti isso em relação à Cleo, e sinto muito isso em relação à Percy, Zoe e Joe. 
na minha muito breve review no goodreads escrevi: "Isto é o Almost Famous dos livros. E, como tal, eu realmente só queria ter sido a Percy.". há anos, desde a primeira vez que vi o Almost Famous, que percebi que havia um nome e um papel profissional para aquilo que queria ser. primeiro, pensei que jornalismo ia valer-me esse papel. quão magnífico ser jornalista e aceder a concertos, acompanhar bandas, dar o seu ponto de vista de um momento tão único e fantástico que nunca se repete da mesma forma. depois, analisei as coisas, e... olha que giro o fotojornalismo! mas não me enchia as medidas. era bom sonhar ter aquela vida nómada, ou mais alternativa, de seguir bandas e concertos. quando percebi do que se trata a antropologia... isto, sim, era vida. toda a gente era importante, toda a gente tinha uma história para contar e registar, e que se lixem as bandas e a música. 
no entanto, como sabemos, os sonhos demoram muito a morrer, e cada vez que revejo (e revejo imensas vezes) o Almost Famous, há uma partezinha de mim que chora internamente. com Deep Cuts, eu senti que vivi o sonho. e queria mais, muito mais. 
o livro dá-nos a introdução à amizade com a partilha de música. sabem quantos amigos fiz desta maneira? todos os que permanecem na minha vida até hoje! e senti-me tão bem a ler sobre como isso pode ser a melhor maneira de fazer e manter amizades. e, no seu desenvolvimento (o do livro), a Percy segue o seu caminho como alguém que não tem talento para ser músico, mas tem ouvido para a música, para compor as letras, para criticar, para melhorar. tudo coisas que eu adorava. esta é uma pele a vestir, ou a acompanhar. 
embora esteja a ser vendido como um romancezito, vamos esquecer essa parte e focar naquilo que interessa: é difícil uma mulher fazer caminho na cena musical, seja qual área for. é difícil verem-nos quando os homens parecem ser sempre os elementos mais fortes, carismáticos e inteligentes nesse meio. uma parte das mulheres na música ficaram pela sombra, mas há mulheres com alguma sorte, nesse sentido, que se sobressaíram.
uma parte das bandas e das músicas são um pouco antigas, mas outras que são referenciadas acompanhei-as nos devidos anos. curiosamente, não entendia as suas músicas da forma como Percy o fez durante o livro. as experiências de cada um reflectem-se na percepção das coisas. mas, desta vez, entendi e senti o que cada letra queria transmitir, juntamente com o livro. foi como voltar atrás, reviver uma juventude não vivida, uma experiência que faltava.
a história é uma ode à vida, aos nossos gostos, à nossa personalidade, a construir amizades e olhar por elas mesmo quando parece que tudo dá errado nessas relações, mas, acima disso, de, no fim do dia, nos escolhermos e sabermos que merecemos viver os nossos sonhos. 
existe uma playlist muito catita que acompanha o livro, embora haja mais referências no livro de músicas que não aparecem aí (uma parte também são ficção e inexistentes, mas coiso... esquecemos essas). 

é tudo saboroso e sabe bem viver assim. 

sim, sim, esta é uma espécie de review não-review, eu sei.

também sei que o Nuno Markl recomendou o livro, mas no dia que o comprei nem olhei a isso. vendeu-se-me (existe? espero que sim) por ser um livro de ficção com bandas e referências reais, e vim a lê-lo pelo caminho (a pé) de casa! melhor coisa que podia ter feito. 

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